quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Momentos mágicos



Para a maioria das pessoas, a vida tem momentos bons, momentos maus, momentos assim-assim. Momentos coloridos, momentos cinzentos. Mas não é destes que me apetece falar. Apetece-me falar dos momentos fantásticos, dos momentos cor de arco-íris. Daqueles momentos em que se perde a noção do tempo, do lugar, do nosso corpo, e em que parece que todo o universo pára, para connosco saborear um momento extraordinário. E muitas vezes até são bem simples. Uma caminhada na serra, com um grupo de bons amigos: subida dura, calor a apertar, costas dobradas com o peso da mochila. E de repente, o cimo da serra. Uma paisagem deslumbrante, o vento a bater-nos na cara e todos, em silêncio e em sintonia, a contemplar... Ou uma pequena festa de Natal de escuteiros, onde um grupo dos mais novos nos surpreende com uma peça, por eles criada, falando de paz, de solidariedade, de injustiças, de amizade, trazendo-nos as lágrimas aos olhos e fazendo-nos acreditar que, afinal, talvez façamos alguma diferença... Ou os abraços apertados dos filhos, quando, para melhor os saborear-mos, fechamos os olhos e agradecemos a felicidade e a alegria que vemos nos seus rostos... Um jantar de amigos, quando no fim alguém pega numa viola e toca, para todos cantarmos, as nossas canções. E olhando em redor, vemos os rostos daqueles com quem partilhamos aventuras, loucuras, serviço aos outros, confidências...Ou o momento em que perguntamos aquela pessoa especial se queria namorar e ela nos diz "sim", com certeza e alegria. E sempre que ambos recordamos esse momento, há mais de 25 anos...Ou uma refeição deixada a meio, só para subir a serra e ver um pôr-do-sol fabuloso...Ou quando sentimos que marcamos positivamente as pessoas, para lá do que imaginamos...Um filme, uma música, um livro, quando têm o condão de nos transportar para lá da fronteira entre o quotidiano e o reino da magia. Procuro estes momentos. São eles que nos fazem viver o dia a dia com um sorriso de quem tem algo de especial...

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Reformas pouco reformadoras

Não sei qual dos golpes dados recentemente na banca me impressionou mais: se os 5 mil milhões de euros que um funcionário desviou num banco francês, se o valor das indemnizações e reformas atribuídas aos administradores que têm saído do BCP Millenium (percebo agora a origem da marca - reformas... millenárias). Se o primeiro é maior, o segundo tem a grande vantagem de ser legal e assim os autores não precisam sequer de fugir. Fantástico: ainda recentemente ouvi que um grande número de reformados, para viverem com um mínimo de dignidade, precisavam de mais cem euros por mês. Outros, aos 50 anos e após receberem indemnizações de 10 millleniuns (perdão, milhões de euros), têm ainda direito a 35 mil euros de reforma mensal. Vejamos a coisa pelo lado positivo: as estatísticas vão revelar que o valor médio das reformas em Portugal está a aumentar. E isto faz-me lembrar...pois, aquela empresa onde trabalhei. Inserida num sector complicado, as dificuldades faziam-se sentir já há uns anos. Talvez em Fevereiro de certo ano, começaram-se a discutir os aumentos salariais (no ano anterior praticamente não tinham existido). A massa salarial não deveria aumentar mais do que cerca de 3%. Numa reunião de direcção, propus aumentar os salários mais baixos numa taxa superior e praticamente não mexer nos salários mais elevados. Os segundos que se seguiram foram dignos de um filme de suspense: o presidente do conselho de administração disse-me (creio que com toda a sinceridade e muito espanto) que não sabia que eu era comunista. Um outro director disse-me ser uma proposta injusta, uma vez que um aumento generalizado de 3% mantinha o poder de compra de toda a gente inalterado e a minha proposta não. E assim, os 3% lá deram 1 conto e tal de aumento aos que menos ganhavam e 21 contos aos que já mais recebiam. Manteve-se assim o poder de compra (ou a falta dele, para alguns) e a sociedade lá evoluiu mais um bocado. Falando a sério, é evidente que o mérito, o saber, a inteligência, a capacidade de trabalho, etc., têm de ser justamente recompensados, mas acho que nos afastamos cada vez mais de modelos de sociedade como as da Noruega, Finlândia, Suécia e ficamos mais parecidos com os brasileiros, por exemplo.
Voltando aos administradores do BCP e a outros como eles, eu bem sei que nem tudo são rosas: tenho a certeza (quase) que quando passam por funcionários diligentes, esforçados, que no fim do mês levam para casa 500 euros, se sentem algo desconfortáveis e se questionam se porventura todos aqueles milhões não serão um pouco exagerados (bolas, acho que estou um pouco irónico de mais). Termino com uma sugestão: muitas pessoas que têm saldos bancários médios na casa das centenas de euros, não acham piada nenhuma aquelas despesas de manutenção, comissões, etc. que os bancos debitam e lhes emagrecem ainda mais o já de si reduzido pecúlio. É um dado adquirido que os bancos têm de cobrar estes valores por forma a manterem os resultados ao nível que aqueles senhores vestidos de negro (vulgo, os accionistas) esperam. Sugiro que tornem então os descritivos dos débitos mais giros, por exemplo: comparticipação na indemnização a atribuir ao nosso administrador despedido...ou...contribuição para o perdão da dívida do filho do director...ou ainda...verba destinada a off-shore, para aquisição de acções próprias...ou...verba para cobrir despesas adicionais com fusão gorada. Tenho a certeza que todos os clientes aguardariam, ansiosos, a chegada do seu extracto mensal.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Cegos e Empresários

Há uns dias, quando seguia para o emprego, parei num semáforo que estava vermelho. Reparei num cego que caminhava rapidamente pelo passeio, bengala apontada à frente, procurando detectar a tempo os inúmeros obstáculos que a cidade levanta. Eu, se tivesse de caminhar pela cidade de olhos fechados, deveria demorar horas para percorrer a distância que aquele cego iria fazer em cinco minutos. Conheço até muito jovem com boa visão que, mesmo com pressa, se move mais lentamente que aquele cego. E isto lembrou-me uma história. Há cerca de dez anos, era director financeiro de uma fábrica que produzia electrodoméstcos. Entre os nossos 250 empregados, trabalhava um cego. Quando a fábrica mudou de accionistas, chegou um novo presidente do conselho de administração, gestor moderno, habituado a fusões, cisões, downsizing´s, restruturações e essas coisas tais. Logo após termos concretizado uma fusão, começaram os despedimentos. O posto de trabalho do cego nem estaria em risco, mas a sua substituição tornou-se, para o administrador, quase um objectivo em si. A produtividade teria forçosamente de aumentar. E o cego lá foi despedido, embora obviamente indemnizado. Não sei se voltou a encontrar trabalho, o facto de já não ser novo não deve ter ajudado. E creio que a produtividade até caiu: os colegas acharam injusto e a motivação diminuiu. Talvez até por o gestor ser um católico praticante, ministro da comunhão inclusivé! Regresso ao presente. Preocupa-me profundamente a actual taxa de desemprego no nosso país. Deve ser muito triste querer trabalhar e não arranjar trabalho. Querer alimentar a família e não poder. E então penso em alguns dos nossos "grandes" empresários e gestores. Naqueles que acham que a forma mais eficaz de aumentar a remuneração dos accionistas e o valor das acções da empresa é a da redução do número de trabalhadores e a contenção salarial (excepto no que diz respeito aos seus póprios vencimentos, claro, mas estas ideias geniais têm de ser bem pagas...). Ou ainda aqueles empresários que desviam as suas fortunas da indústria, para as aplicarem na especulação imobiliária e financeira, pois, com a habitual ajuda dos nossos políticos e governantes, conseguem retornos do capital muito superiores e mais rapidamente. É evidente que o dinheiro é deles e podem fazer com ele o que entenderem. Mas pelo menos não lhes dêm tanto destaque. Vejo na televisão tanto especulador financeiro e imobiliário que não cria emprego, tantos consultores e dirigentes de clubes de futebol e tão pouco destaque para Empresários como, por exemplo, a família Nabeiro, dos cafés Delta, que empregam gente no interior esquecido do país e se preocupam com a responsabilidade social nos negócios. Termino com uma proposta aos nossos legisladores, que tanto gostam de alterar constantemente tudo que é código. Podiam propor uma alteração à Bíblia, ao capítulo 25 do evangelho de Mateus: onde se lê que no Juízo Final nos será perguntado se "...deste-me de comer, quando tive fome?..., vestiste-me, quando tive frio?", acrescentar que, aos empresários, será também perguntado "empregaste-me, quando não tinha trabalho ?".

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Professores e violinos

Li no jornal que os melhores violinos do mundo se fazem, actualmente, em Portugal. De uma forma totalmente artesanal, numa pequena empresa familiar. Ponto. Um estudante do 10º ano, que eu conheço muito bem, teve 8 num primeiro teste de matemática, para depois conseguir recuperar um pouco, obtendo um 12 no segundo teste. Nota no final do 1º período: 8 valores. Nesta altura terão já feito a vocês mesmos duas perguntas: o que é que uma coisa tem a ver com a outra e o que é que terá justificado a nota, tão pouco aritmética, a matemática. A resposta que obtive para a segunda pergunta é que os professores preferem dar negativa por uma questão de precaução pois se, nestes casos, derem agora positiva e o aluno no segundo período descer e merecer mesmo a negativa, terão de justificar, perante o Ministério, a nota dada...o que deve dar trabalho, imagino. Também não gostam de dar 9, porque fica já próximo do 10 e causa discussão. O 8 é, para eles, mais tranquilo. Agora farão uma terceira pergunta: "E o aluno, como fica?"
Isto faz-me lembrar uma história, vivida na primeira pessoa. Em 1984, saídinho da faculdade e enquanto esperava ir para a tropa, fui professor de matemática do 5º e 6º anos. Lembro-me de um aluno, muito fraquinho à disciplina, mas com grande vontade de aprender. Num primero teste terá atingido uns 30%. Dei-lhe 40% e disse que estava no bom caminho, pelo que eu ia vendo nas aulas. No segundo teste terá atingido uns 45%. Dei-lhe 50% e voltei a desafiá-lo, dizendo que começava a dominar a matemática mas era capaz de mais...Acabou o ano sendo aluno consistente de 75%, bem merecidos, porque tinha ganho gosto, estudava mais que os outros e aprendeu a confiar nas suas capacidades e nos resultados do seu trabalho. Será pouco ortodoxo (ainda me punem, com efeitos retroactivos), mas arrisquei, desafiei o determinado, investi e tive resultados.
Começo agora a responder à primeira pergunta: creio que tal como os violinos, cada aluno deve ser merecedor da particular atenção do professor. Acham que se conseguiriam fazer os famosos violinos com fabricações em série, pouco trabalho e afinando os violinos todos da mesma maneira, sem ouvido nem coração? Eu sei, quem sou eu para falar de metodologias de ensino, quando o Ministério da Educação tem todos aqueles pedagogos, cientistas da educação, consultores, investigadores... E parece até que está provado que, a matemática, o intelecto dos nossos alunos está muito abaixo da média europeia...
Mas sabem, há também alguns fabricantes de violinos doutros países que dizem que os seus não são melhores por causa da madeira...

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Um, dois, três... experiência

Um, dois, três...experiência! Bom, já se vê que percebo disto a pacotes! Carrego nas teclas do computador com o cuidado de um perito de explosivos que tem pela frente um engenho desconhecido! Vamos a ver no que dá...

Dizem que os contadores de histórias, para melhor agarrarem o ouvinte, às vezes exageram um pouco: "...o peixe que pesquei media para aí metro e meio (deveremos ler 15 cm), ou... dei aquela curva apertada a 180 Km/h (descontando o erro do velocímetro, seriam uns 90), ou...naquele jogo fantástico marquei cinco golos (deveríamos descontar os marcados na nossa baliza, durante o aquecimento)". Isto é normal, desde que o exagero não seja, ele próprio, muito exagerado. E o testemunho aqui deixado, na introdução desde blog, pela sua criadora é mesmo muito exagerado: muito simpático, muito motivador, mas muito exagerado.

De qualquer forma, o meu muito obrigado à Joana Sousa pelo seu presente mais do que original, pelas suas palavras e, sobretudo, pela sua amizade.

E é assim que eu quero terminar esta minha primeira experiência no éter ciberastronáutico: com um brinde às histórias da nossa vida (sobretudo aquelas que contamos com um sorriso e através das quais deixamos marcas positivas naqueles que nos rodeiam) e aos Amigos, pois são para eles e com eles as nossas histórias!

Um BOM ANO!