quarta-feira, 7 de maio de 2008

Amanhã será diferente

Um escuteiro deve ser um optimista. Mas confesso que às vezes não é fácil. Lembro-me frequentemente daquela frase que li: "um pessimista é um optimista informado". Porquê este pessimismo? Porque creio que seria de esperar que fossemos sempre melhorando um pouco a nossa sociedade. E olho para o nosso país actual e comparo com a situação que tinhamos há quinze, vinte anos atrás e não vejo que tenhamos caminhado nessa direcção... O desemprego quase duplicou. Grassa entre os jovens à procura da primeira colocação e entre aqueles que, tendo perdido o emprego, têm mais de 45 anos de idade e dificilmente voltarão a reentrar no mundo do trabalho. O número de famílias sobreendividadas aumentou imenso: imagino a angústia de ter de optar entre pagar a prestação da casa ou comprar, por exemplo, os livros escolares para os filhos. Quando dantes se falava em procurar empregos com futuro, hoje fala-se da cor dos recibos (geralmente é verde). Qualquer dia, as Finanças passam a vendê-los avulso, tal é a segurança com que se pode prever o futuro laboral. Atesta-se (!?) o depósito do carro e apetece perguntar se se pode pagar em 12 prestações. O fosso salarial entre os administradores das empresas e os funcionários alargou-se de tal forma que, à sua beira, os desvios entre os valores orçados para as obras públicas e os respectivos custos reais, são já irrelevantes. A saúde e o ensino, que deveriam ser tendencialmente gratuitos, estão hoje muito mais caros. Apesar de ouvirmos falar de reformas milionárias, obtidas ao final de apenas alguns anos, de políticos, banqueiros e gestores, perguntamos se a nossa, na velhice, será suficiente para pagar os PPR`s (as Papas, os Pijamas e os Remédios). Voltamos aos tempos da emigração: agora além dos menos qualificados, partem também os recém-licenciados à procura de uma oportunidade. Até os brandos costumes que eram apanágio do nosso país parecem estar a desaparecer: carjacking, roubos com violência, tiroteios à noite entre gangues, "coças" dentro de esquadras de polícia, serial killers (sim, o que hoje foi condenado a 25 anos de cadeia por matar 4 pessoas. Nota: levou esta pena porque já tinha estado preso e não se emendou - foi o azar dos 4 assassinados! Mas não se preocupem: se tiver bom comportamento deve sair ao fim de 8 anos)...Eu sei que o mundo mudou muito nestes anos. A globalização das economias é um facto. E conseguimos alguns avanços: a nossa integração na moeda única, o controlo da inflação e do défice público (a ver vamos), as nossas exportações dependem agora menos dos sectores tradicionais. Temos algumas empresas tecnologicamente avançadas e mais jovens com cursos superiores. Mas, se avançamos, o mundo andou mais depressa do que nós e a sensação que me fica é a de que ficamos claramente para trás.
E o panorama internacional agrava, e muito, o meu pessimismo. O aumento do preço do petróleo e dos produtos alimentares pode matar milhões à fome, enquanto os fundos de investimento (nomeadamente os que especulam com os preços do arroz) e os países produtores de petróleo, conseguem lucros recorde. Enquanto o mundo se prepara para enfrentar a crise financeira gerada pelo crédito subprime, os grandes gestores dos bancos americanos (que causaram o maremoto) pensam em como gastar os seus salários milionários. Enquanto o povo do Tibete é oprimido e violentado, nós preparamo-nos para os Jogos Olímpicos. Enquanto se praticam atrocidades no Zimbabwe, nós ratificamos o Tratado de Lisboa. Enquanto examinamos as consequências incertas do aquecimento do planeta no futuro, recusamos investir em remediar as necessidades certas e urgentes no Terceiro Mundo, como o fornecimento de água potável à população. Vou-me deitar. Pode ser que acorde com outros olhos.