quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Reformas pouco reformadoras

Não sei qual dos golpes dados recentemente na banca me impressionou mais: se os 5 mil milhões de euros que um funcionário desviou num banco francês, se o valor das indemnizações e reformas atribuídas aos administradores que têm saído do BCP Millenium (percebo agora a origem da marca - reformas... millenárias). Se o primeiro é maior, o segundo tem a grande vantagem de ser legal e assim os autores não precisam sequer de fugir. Fantástico: ainda recentemente ouvi que um grande número de reformados, para viverem com um mínimo de dignidade, precisavam de mais cem euros por mês. Outros, aos 50 anos e após receberem indemnizações de 10 millleniuns (perdão, milhões de euros), têm ainda direito a 35 mil euros de reforma mensal. Vejamos a coisa pelo lado positivo: as estatísticas vão revelar que o valor médio das reformas em Portugal está a aumentar. E isto faz-me lembrar...pois, aquela empresa onde trabalhei. Inserida num sector complicado, as dificuldades faziam-se sentir já há uns anos. Talvez em Fevereiro de certo ano, começaram-se a discutir os aumentos salariais (no ano anterior praticamente não tinham existido). A massa salarial não deveria aumentar mais do que cerca de 3%. Numa reunião de direcção, propus aumentar os salários mais baixos numa taxa superior e praticamente não mexer nos salários mais elevados. Os segundos que se seguiram foram dignos de um filme de suspense: o presidente do conselho de administração disse-me (creio que com toda a sinceridade e muito espanto) que não sabia que eu era comunista. Um outro director disse-me ser uma proposta injusta, uma vez que um aumento generalizado de 3% mantinha o poder de compra de toda a gente inalterado e a minha proposta não. E assim, os 3% lá deram 1 conto e tal de aumento aos que menos ganhavam e 21 contos aos que já mais recebiam. Manteve-se assim o poder de compra (ou a falta dele, para alguns) e a sociedade lá evoluiu mais um bocado. Falando a sério, é evidente que o mérito, o saber, a inteligência, a capacidade de trabalho, etc., têm de ser justamente recompensados, mas acho que nos afastamos cada vez mais de modelos de sociedade como as da Noruega, Finlândia, Suécia e ficamos mais parecidos com os brasileiros, por exemplo.
Voltando aos administradores do BCP e a outros como eles, eu bem sei que nem tudo são rosas: tenho a certeza (quase) que quando passam por funcionários diligentes, esforçados, que no fim do mês levam para casa 500 euros, se sentem algo desconfortáveis e se questionam se porventura todos aqueles milhões não serão um pouco exagerados (bolas, acho que estou um pouco irónico de mais). Termino com uma sugestão: muitas pessoas que têm saldos bancários médios na casa das centenas de euros, não acham piada nenhuma aquelas despesas de manutenção, comissões, etc. que os bancos debitam e lhes emagrecem ainda mais o já de si reduzido pecúlio. É um dado adquirido que os bancos têm de cobrar estes valores por forma a manterem os resultados ao nível que aqueles senhores vestidos de negro (vulgo, os accionistas) esperam. Sugiro que tornem então os descritivos dos débitos mais giros, por exemplo: comparticipação na indemnização a atribuir ao nosso administrador despedido...ou...contribuição para o perdão da dívida do filho do director...ou ainda...verba destinada a off-shore, para aquisição de acções próprias...ou...verba para cobrir despesas adicionais com fusão gorada. Tenho a certeza que todos os clientes aguardariam, ansiosos, a chegada do seu extracto mensal.

4 comentários:

Anónimo disse...

lool adoro esta veia profissional.
Comunista?! HEH

que máximo!

ju disse...

alguma coisa contra os brasileiros?
ando revoltada com as manifestações xenofobas para os imigrantes de leste... x)

Anónimo disse...

Têm coisas fantásticas: a bossa nova, Vinicius, Bethânia, saber curtir o sol e um violão, as coisas simples, a alegria...

Mas em termos de injustiças sociais também são bons...

Anónimo disse...

são bons alvos fáceis, pelo que me parece...