Não sei qual dos golpes dados recentemente na banca me impressionou mais: se os 5 mil milhões de euros que um funcionário desviou num banco francês, se o valor das indemnizações e reformas atribuídas aos administradores que têm saído do BCP Millenium (percebo agora a origem da marca - reformas... millenárias). Se o primeiro é maior, o segundo tem a grande vantagem de ser legal e assim os autores não precisam sequer de fugir. Fantástico: ainda recentemente ouvi que um grande número de reformados, para viverem com um mínimo de dignidade, precisavam de mais cem euros por mês. Outros, aos 50 anos e após receberem indemnizações de 10 millleniuns (perdão, milhões de euros), têm ainda direito a 35 mil euros de reforma mensal. Vejamos a coisa pelo lado positivo: as estatísticas vão revelar que o valor médio das reformas em Portugal está a aumentar. E isto faz-me lembrar...pois, aquela empresa onde trabalhei. Inserida num sector complicado, as dificuldades faziam-se sentir já há uns anos. Talvez em Fevereiro de certo ano, começaram-se a discutir os aumentos salariais (no ano anterior praticamente não tinham existido). A massa salarial não deveria aumentar mais do que cerca de 3%. Numa reunião de direcção, propus aumentar os salários mais baixos numa taxa superior e praticamente não mexer nos salários mais elevados. Os segundos que se seguiram foram dignos de um filme de suspense: o presidente do conselho de administração disse-me (creio que com toda a sinceridade e muito espanto) que não sabia que eu era comunista. Um outro director disse-me ser uma proposta injusta, uma vez que um aumento generalizado de 3% mantinha o poder de compra de toda a gente inalterado e a minha proposta não. E assim, os 3% lá deram 1 conto e tal de aumento aos que menos ganhavam e 21 contos aos que já mais recebiam. Manteve-se assim o poder de compra (ou a falta dele, para alguns) e a sociedade lá evoluiu mais um bocado. Falando a sério, é evidente que o mérito, o saber, a inteligência, a capacidade de trabalho, etc., têm de ser justamente recompensados, mas acho que nos afastamos cada vez mais de modelos de sociedade como as da Noruega, Finlândia, Suécia e ficamos mais parecidos com os brasileiros, por exemplo.
Voltando aos administradores do BCP e a outros como eles, eu bem sei que nem tudo são rosas: tenho a certeza (quase) que quando passam por funcionários diligentes, esforçados, que no fim do mês levam para casa 500 euros, se sentem algo desconfortáveis e se questionam se porventura todos aqueles milhões não serão um pouco exagerados (bolas, acho que estou um pouco irónico de mais). Termino com uma sugestão: muitas pessoas que têm saldos bancários médios na casa das centenas de euros, não acham piada nenhuma aquelas despesas de manutenção, comissões, etc. que os bancos debitam e lhes emagrecem ainda mais o já de si reduzido pecúlio. É um dado adquirido que os bancos têm de cobrar estes valores por forma a manterem os resultados ao nível que aqueles senhores vestidos de negro (vulgo, os accionistas) esperam. Sugiro que tornem então os descritivos dos débitos mais giros, por exemplo: comparticipação na indemnização a atribuir ao nosso administrador despedido...ou...contribuição para o perdão da dívida do filho do director...ou ainda...verba destinada a off-shore, para aquisição de acções próprias...ou...verba para cobrir despesas adicionais com fusão gorada. Tenho a certeza que todos os clientes aguardariam, ansiosos, a chegada do seu extracto mensal.
quinta-feira, 24 de janeiro de 2008
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4 comentários:
lool adoro esta veia profissional.
Comunista?! HEH
que máximo!
alguma coisa contra os brasileiros?
ando revoltada com as manifestações xenofobas para os imigrantes de leste... x)
Têm coisas fantásticas: a bossa nova, Vinicius, Bethânia, saber curtir o sol e um violão, as coisas simples, a alegria...
Mas em termos de injustiças sociais também são bons...
são bons alvos fáceis, pelo que me parece...
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