sábado, 12 de julho de 2008

Grandes 8

"Vós que lá do vosso império,
Prometeis um mundo novo:
Calai-vos que pode o povo
Querer um mundo novo a sério."

Quadra do grande poeta António Aleixo. Lembrei-me dela a propósito da última cimeira dos poderosos do G-8. Entre os temas abordados, esteve a crise alimentar e a fome no Mundo. Se alguém como Gandhi fosse o anfitrião, não me surpreenderia nada que no final dos trabalhos, Bush, Sarkozy, Medvedev, Berlusconi, Fukuda, Merkel e os restantes, encontrassem uma mesa com um jarro de água e uns pãezinhos, para que, mesmo de uma forma simbólica e pontual, dessem a entender que sentiam o que tinham estado a discutir. Mas não: o jantar tinha 20 (!) pratos, todos eles requintadíssimos e caros. Isto logo a seguir a terem discursado sobre os milhares de crianças que morrem à fome no 3º Mundo. Sabemos que não sabem, ou não querem, resolver os problemas mais prementes do mundo, principalmente os dos mais pobres: mas pelo menos disfarcem, dêm a entender que se importam, um pouco.

Senão, imagino agendas das próximas cimeiras do G-8:
- "Implementação de programa de protecção de espécies animais em extinção" (jantar com sopa de tartaruga da Amazónia e filetes de panda);
- "A cooperação e a paz mundial" seguido de intervenção de George W. Bush acerca do escudo de mísseis norte-americano. O 1º tema é patrocinado pelo fabricante de caças Lockeed e pelo construtor de mísseis Matra.
- "Desenvolvimento de energias alternativas". Oradores: J.Sears (Shell), P.Morgan (Texaco Oil) e H. Oliver (Gulf Oil);

Termino como comecei, com Aleixo:

"Só quando a hipocrisia
Cair do seu pedestal,
Nascerá, dia após dia,
Um sol p´ra todos igual."

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Arqueologia e silêncio

Sou péssimo a recordar datas. Mas creio que terá sido em 1981, o acampamento de verão em Lamas de Mouro, perto de Castro Laboreiro. Na vila havia um Padre, Aníbal, de seu nome, que era um historiador e arqueólogo conhecido. As homilias eram incríveis: qualquer texto do Evangelho era pretexto para imediatamente passar para a história de Castro Laboreiro, mais parecendo que nos encontravamos numa aula de arqueologia do que numa missa. O certo é que todos ficamos, na altura, com uma costelinha de arqueólogos. Bem, no final do acampamento, eu e mais três caminheiros resolvemos não regressar com os outros na camioneta e optamos por ficar mais uns dias no local, com o intuito de aproveitar para conhecer melhor a serra. Eu já não me andava a sentir lá muito bem, mas a desgraça veio no primeiro dia em que ficamos sózinhos: fiquei com fortíssimas dores de barriga, cheio de vómitos e outras coisas tais. Na mesma altura descobri a razão: o riacho donde bebíamos água tinha já, a montante, trechos estagnados! Foi muito giro: alternava entre o vomitar, o agarrar a barriga e o ...Bem, a certa altura, estando eu sózinho a praticar a primeira das referidas coisas, reparei em algo enterrado que assomava ligeiramente à superfície! Quando consegui parar a desagradável tarefa, fui investigar: era algo cerâmico, de barro grosseiro. Vieram-me à memória as homilias arqueológicas do Padre Aníbal e como ele afirmara haver por ali muitos achados arqueológicos. Comecei a escavar a terra dura com as mãos. Parecia um objecto grande. De cinco em cinco minutos interrompia a escavação, ora para vomitar, ora para...Á medida que ia escavando à volta do objecto, a minha expectativa ia crescendo: apresentava uma forma muito esquisita, com uma curvatura muito pronunciada e parecia inteiro. Antevia os jornais: "escuteiro descobre vaso etrusco com 3.000 anos, intacto". Tive de interromper a escavação por diversas vezes para...pois. Mas, após algum tempo e esforço, finalmente a peça já se podia mover. A excitação estava no auge: puxei com força e a peça finalmente viu a luz do dia. E era, nem mais nem menos... um sifão de sanita, dos antigos, em barro...Os sonhos de glória ficaram logo ali. Nem os meus três amigos entenderam a minha decepção, porque me gozaram o resto do dia.

Bem, mas se me recordo bem desta história, algo nesta altura me marcou muito mais profundamente: o silêncio que ficou após a partida das pessoas do agrupamento. Depois de uma semana a dar no duro, a trabalhar para a miudagem, na mente de nós quatro estava um merecido descanso, passeio e boa-vida. Mas para cada sítio que olhavamos, recordavamos como ainda há pouco fervilhara de vida, de alegria, de gente. Parecia um filme: nos locais, agora vazios, revíamos, no nosso imaginário, as caras, os risos, as correrias, os sons. Evidentemente que conversamos, que gracejamos, que cantamos, mas o silêncio era mais forte. O silêncio da ausênca, de saudade da felicidade vivida, da nostalgia. Aguentamos lá mais um dia. Depois fugimos a sete pés. Tinhamos muito pouco geito para ermitas, mesmo numa congregação a quatro.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Homenagem



Gosto desta música. Mal a ouvi pela primeira vez, senti que ia entrar na minha galeria particular de músicas preferidas. É uma música calma mas cheia de força, com a voz rouca, por vezes quase desafinada, da Brandi Carlile. É curioso que se intitula "The story". Coincidências... E esta música vem mesmo a propósito para servir de pretexto para uma homenagem pessoal a uma boa amiga. Uma amiga que está presente na minha vida há mais de trinta anos. Que partilhou comigo alegrias e tristezas, vitórias e derrotas. Que quase diariamente priva comigo. Sempre que passo alguns dias sem ela, sinto saudades e anseio o reencontro. Sei de amigos meus que partilham este sentimento por ela. O Berto e o Amadeu, por exemplo. Às vezes, quando acampamos (nessas alturas não a temos connosco), falamos dela e de como cada um de nós viverá o reencontro. Já o Zé Pinto não a suporta. Creio que nunca lhe deu uma oportunidade de mostrar os seus encantos. A minha mulher não desgosta dela, embora eu sinta ciúmes em a partilhar. Quero-a só para mim. Não admira: nunca me deixou mal disposto e até já me alegrou...
Assim sendo, proponho um brinde: deixem o preço de petróleo trepar, o arroz disparar, as acções colapsar, mas que nunca falte a amiga CERVEJA para celebrar. Bem, para não deixar mal o carácter pedagógico (presunçoso) deste blogue, acrescento: beber, mas com moderação. Há pequenos prazeres na vida que só o são enquanto somos nós que os controlamos. Se são eles que nos controlam, se nos tornamos dependentes, aí vai-se o gozo e vem a tristeza. E deixamos de ter motivos para rir ...com os pequenos prazeres da vida!

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Quando o arco-irís parece muito distante



Nunca me esqueci daquela história que li num livro para Guias de Patrulha: "Perguntaram a três pedreiros que construíam uma catedral, o que faziam ali. O primeiro respondeu - arrasto pedras. O segundo afirmou - ganho dinheiro para alimentar a minha família. O terceiro disse, com um sorriso e ar sonhador - construo a catedral mais bonita que o mundo já viu". Creio que nunca pensei como o primeiro pedreiro. Geralmente, penso como o segundo. Raramente consigo sentir o que sentia o terceiro. Para grande pena minha. Às vezes ponho-me a imaginar o que sentirá um escritor ao terminar um livro que irá correr o mundo nas mãos de leitores ávidos de conhecer o seu desfecho. Ou a sensação de um cineasta ao verificar como as pessoas, ao verem o seu filme, riem, choram, sustêm a respiração e no final, à saída, se mostram tocadas pela magia que sentiram naquele par de horas. Ou ainda um pintor ou um escultor, ao terminarem a sua obra-prima. Um médico ao salvar uma vida. Um político, um activista, ao lograrem implementar algo que terá um impacto positivo na vida de muitas outras pessoas. Diga-se o que se disser, na esmagadora maioria das vezes, a realização dos nossos sonhos implica fé, trabalho e a disposição para correr riscos. E às vezes sentamo-nos, embalados pelo nosso realismo, estabilidade e conforto, a olhar o arco-íris...ao longe.

domingo, 1 de junho de 2008

Línguas mortas, palavras vivas

A pequena e simples hitória que vou contar, não me foi contada, já que eu estava presente. Tratava-se de um seminário ao qual assistiam cerca de 250 pessoas. O tema era a segunda encíclica de Bento XVI, intitulada "Spe salvi". Será escusado traduzir, porque os poucos (mas bons) leitores deste blogue saberão de imediato que quer dizer "Salvos na esperança", uma vez que o latim é uma língua que dominam plenamente desde pequenos. Eu, por exemplo, lembro-me perfeitamente quando, em criança, após me ter portado mal, a minha mãe ao dar-me uma sapatada, me dizia: "a teneris consuescere multum est" (de pequenino se torce o pepino), ao que eu, choroso, respondia "ab alio spetes alteri quod feceris" (quem faz o mal, espere outro tal). O latim, hoje uma língua morta, tornou-se através da Igreja a língua dos académicos e filósofos medievais europeus e é, ainda hoje, a língua oficial da Cidade do Vaticano. Mesmo as personalidades que visitam o Vaticano falam em latim. George Bush, por exemplo. Na última visita apercebi-me perfeitamente do Santo Papa ter dito a Bush: "non in solo pane vivit homo". A que Bush respondeu, num latim fluente, com uma pequena pronúncia texana: "qui nescit dissimulare, nescit regnare". Bem, voltemos à hitória e às coisas sérias. Como já referi, do lado de baixo estavam os tais 250 leigos (termo giro, este). A presidir à sessão, dois Bispos Auxiliares. Um dos Bispos procedeu a uma dissertação sobre a encíclica e, em seguida, passou-se a um período para colocação de questões sobre o tema, que seriam respondidas seguidamente pelo Bispo. Iam as questões a meio, quando uma senhora de idade se levanta e diz: "estou com dificuldades no meu casamento. O Sr. Bispo podia-me dizer alguma coisa?" A plateia ficou silenciosa e embaraçada. Ao mesmo tempo fiquei curioso: que iria o Bispo dizer? Eu digo-vos o que disse: rigorosamente nada. Nem uma palavra. Era como se a senhora não tivesse nunca feito a pergunta ou não existisse. Pensei no que ela deverá ter sentido. Se calhar apercebeu-se de que a questão fora totalmente despropositada e ficou cheia de vergonha, pensando que não era digna sequer dum comentário. Ou então, que o seu problema era irrelevante para os outros. Confesso que esperava do Bispo outra atitude. Um simples "é preciso ter esperança" ou "falo consigo lá fora" ou "vou rezar pelo seu casamento". Mas, reflectindo melhor, se calhar esperava mesmo o silêncio. Porque a grande maioria dos mortais, há medida que sobe na hierarquia, vai-se tornando mais distante, mais importante, e já não tem tempo, nem paciência, para os pobres e os ignorantes. O seu tempo é para ser gasto com outra gente importante como eles, ou para estudar latim ou encíclicas. Confesso que nada sei de latim; pouco sei das difíceis encíclicas de Bento XVI. Mas sei que o Homem mais importante que já calcou este nosso planeta, usava parábolas para que até as crianças o entendessem e que os seus discípulos falavam línguas estrangeiras, que não conheciam, para chegarem a todos. O Homem mais importante de todos, ensinava a humildade e tinha tempo e atenção para o mais leigo dos homens. Pois como muito bem dizia o Sr. Bispo Auxiliar: "quem ama tem tempo" e sempre um gesto de atenção, acrescento eu.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Amanhã será diferente

Um escuteiro deve ser um optimista. Mas confesso que às vezes não é fácil. Lembro-me frequentemente daquela frase que li: "um pessimista é um optimista informado". Porquê este pessimismo? Porque creio que seria de esperar que fossemos sempre melhorando um pouco a nossa sociedade. E olho para o nosso país actual e comparo com a situação que tinhamos há quinze, vinte anos atrás e não vejo que tenhamos caminhado nessa direcção... O desemprego quase duplicou. Grassa entre os jovens à procura da primeira colocação e entre aqueles que, tendo perdido o emprego, têm mais de 45 anos de idade e dificilmente voltarão a reentrar no mundo do trabalho. O número de famílias sobreendividadas aumentou imenso: imagino a angústia de ter de optar entre pagar a prestação da casa ou comprar, por exemplo, os livros escolares para os filhos. Quando dantes se falava em procurar empregos com futuro, hoje fala-se da cor dos recibos (geralmente é verde). Qualquer dia, as Finanças passam a vendê-los avulso, tal é a segurança com que se pode prever o futuro laboral. Atesta-se (!?) o depósito do carro e apetece perguntar se se pode pagar em 12 prestações. O fosso salarial entre os administradores das empresas e os funcionários alargou-se de tal forma que, à sua beira, os desvios entre os valores orçados para as obras públicas e os respectivos custos reais, são já irrelevantes. A saúde e o ensino, que deveriam ser tendencialmente gratuitos, estão hoje muito mais caros. Apesar de ouvirmos falar de reformas milionárias, obtidas ao final de apenas alguns anos, de políticos, banqueiros e gestores, perguntamos se a nossa, na velhice, será suficiente para pagar os PPR`s (as Papas, os Pijamas e os Remédios). Voltamos aos tempos da emigração: agora além dos menos qualificados, partem também os recém-licenciados à procura de uma oportunidade. Até os brandos costumes que eram apanágio do nosso país parecem estar a desaparecer: carjacking, roubos com violência, tiroteios à noite entre gangues, "coças" dentro de esquadras de polícia, serial killers (sim, o que hoje foi condenado a 25 anos de cadeia por matar 4 pessoas. Nota: levou esta pena porque já tinha estado preso e não se emendou - foi o azar dos 4 assassinados! Mas não se preocupem: se tiver bom comportamento deve sair ao fim de 8 anos)...Eu sei que o mundo mudou muito nestes anos. A globalização das economias é um facto. E conseguimos alguns avanços: a nossa integração na moeda única, o controlo da inflação e do défice público (a ver vamos), as nossas exportações dependem agora menos dos sectores tradicionais. Temos algumas empresas tecnologicamente avançadas e mais jovens com cursos superiores. Mas, se avançamos, o mundo andou mais depressa do que nós e a sensação que me fica é a de que ficamos claramente para trás.
E o panorama internacional agrava, e muito, o meu pessimismo. O aumento do preço do petróleo e dos produtos alimentares pode matar milhões à fome, enquanto os fundos de investimento (nomeadamente os que especulam com os preços do arroz) e os países produtores de petróleo, conseguem lucros recorde. Enquanto o mundo se prepara para enfrentar a crise financeira gerada pelo crédito subprime, os grandes gestores dos bancos americanos (que causaram o maremoto) pensam em como gastar os seus salários milionários. Enquanto o povo do Tibete é oprimido e violentado, nós preparamo-nos para os Jogos Olímpicos. Enquanto se praticam atrocidades no Zimbabwe, nós ratificamos o Tratado de Lisboa. Enquanto examinamos as consequências incertas do aquecimento do planeta no futuro, recusamos investir em remediar as necessidades certas e urgentes no Terceiro Mundo, como o fornecimento de água potável à população. Vou-me deitar. Pode ser que acorde com outros olhos.

domingo, 13 de abril de 2008

Frutos especiais

Esta semana fui ao supermercado. Ao passar na secção dos frutos, deparei-me com uma série deles que nunca antes houvera visto. Apuruis, bacuris, muricis, graviolas (não sei se eram estes que cito e que fui buscar à net, mas já não me lembro do nome dos que vi e fica bem pôr aqui uns nomes esquisitos). E os frutos que vi eram mesmo esquisitos. Confesso que se estivesse perdido na selva tropical, era capaz de morrer de fome à beira daquelas coisas, sem que me apercebesse que eram frutos comestíveis. Porque existem frutos que só alguns reconhecem. E se em vez de vegetais, falarmos de pessoas, as coisas ainda se complicam mais! Pequenos gestos, pequenos sinais...e que descoberta podemos fazer. Mas só se soubermos o que procuramos: um lobito dos do internato, que durante todo o tempo que durou a Homilia, no Domingo das Promessas, nunca deixou de estar sentado "colado" à Diana, cabeça encostada ao seu ombro, praticamente sem se mexer, quase se vendo o carinho a fluir. A Ana J., a juntar-se, com todo o à vontade, aos mais velhos, para cantar. O Rui Q., a tocar batuque para 150 pessoas. A Joana P., tão envergonhada que era, a falar para todo o Agrupamento. O Nelson, que está tão responsável, sempre presente na Missa, sempre preocupado em transmitir-me as notas da escola. O Paulo a pendurar-se no meu pescoço para se esconder dum colega, ele que era tão distante. Dar carinho a quem precisa dele; ajudar a crescer; dar atenção a quem grita por ela; desenvolver capacidades; incentivar e responsabilizar; transmitir confiança. Quem olha de fora, acredito que não veja nada de especial. Que não veja frutos. Para quem conhece aqueles miúdos, os frutos, mesmo pequenos, são dos mais saborosos do Mundo!

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Ser Gente




Podem gostar de estar comigo, falar comigo, ouvir o que digo...
se não me interesso verdadeiramente pelos outros, nada sou.

Posso ser alegre, bem disposto, feliz...
se não me comover com os que sofrem, nada valho.

Posso receber presentes, flores, ser o centro das atenções...
sem dar, nada tenho.

Posso usufruir das melhores tecnologias, inventos, avanços da ciência...
se não crio, se não me reinvento para dar, nada valho.

Posso ter fama, êxito, sucesso profissional...
se não tiver humildade, nada tenho.

Posso ser inteligente, culto, considerado...
se não partilhar o que aprendi, nada sei.

Posso ser livre, frontal, dizer o que penso...
se não luto ao lado dos oprimidos, nada sou.

Posso ter dinheiro, acções e imóveis...
se não for generoso com os pobres, nada tenho.

Posso ser justo no que digo, no que penso, no que faço...
se não gritar contra as injustiças de que os outros são alvo, nada sou.

Posso ter fé, saber teologia, fazer voluntariado...
sem sentir amor, nada valho.



Dar…desinteressadamente.

Lutar…pacificamente.

Rir…conjuntamente.

Chorar…solidariamente.

Trabalhar…honradamente.

Descansar…merecidamente.

Sonhar…irresponsavelmente.

Agir…comprometidamente.

Criar… continuamente.

Triunfar…humildemente.

Ouvir…atentamente.

Falar…sinceramente.

Mentir…nunca mente.

Perdoar…incessantemente.

Amar…verdadeiramente.

Viver…apaixonadamente.

Tu podes fazer a diferença

De uma forma geral, uma gota de água tem pouca importância. Quase não a vemos, quase não a sentimos.
Mas quando muitas gotas de água se juntam, aí as coisas são diferentes: formam regatos, ribeiros, rios.
Movem moinhos, regam campos, alimentam barragens.
Mas estas mesmas gotas que, juntas, dão vida, também são capazes de destruir, em torrentes, inundações, maremotos.
Se bem que uma gota de água seja, na realidade e de uma forma geral, pouco importante, o certo é que a água que destrói ou dá vida, ajuda a nascer ou mata, nada mais é do que simples conjunto de muitas gotas de água.
Os homens também são assim. Sozinhos, de uma forma geral, são pouco importantes, em quase nada influenciam o mundo. Sozinhos, não alteram o curso das guerras, não mudam as políticas,…
Mas arrastando-se uns aos outros, os homens fazem a guerra, a paz, geram desigualdades, promovem o desenvolvimento.
Quanto à gota de água, ela não decide se faz parte de um regato, de uma torrente, de um lago ou de um maremoto.
Mas nós podemos decidir.
Decidir se somos dos que geram conflitos, ou dos que promovem a paz.
Se somos dos que olham para o outro lado quando nos pedem ajuda, ou dos que damos a mão.
Dos que têm coração duro e frio, ou daqueles cujo sorriso é reflexo da alma.
Se somos dos que nada fazem para melhorar este mundo, ou dos que todos os dias praticam uma boa-acção.
Se somos dos que calam com as injustiças ou dos que lutam contra elas.
Se somos daqueles que nada criam, nada constroem, ou dos que inventam para dar.
Se somos dos que dizem “não O conheço” ou dos que dizem “faça-se a Tua vontade”.

Para se fazer a diferença, não é preciso ser-se muito importante. Basta sermos todos os dias Escuteiros verdadeiros, comprometidos. Como nós, haverá muitos e juntos faremos um mar.

(Tema do ano 2006/2007: “Tu podes fazer a diferença”. Subtema do 2º trimestre “Muitas gotas…um oceano). VI Agrupamento Bonfim

quarta-feira, 26 de março de 2008

A imagem e a hipocrisia

Não existem palavras que batam uma simples imagem. Há anos que se fala de falta de respeito, de indisciplina nas escolas e pouco se vai fazendo para alterar a situação. Aparece na televisão um filme de uns minutos de uma aluna mal educada a lutar pelo SEU telemóvel e até o Procurador Geral da Républica intervem. Das duas uma: ou somos um país de ignorantes que só acreditamos no que vemos, ou somos uns hipócritas que só nos sentimos na obrigação de agir quando é mesmo vergonhoso não o fazer. É evidente que é grave o que aquela aluna do Carolina fez. É evidente que tem de ser punida. Parece-me também evidente que a dureza do castigo dependa de ela ter ou não antecedentes e, eventualmente, do contexto da situação: ela até poderia querer ir para a "rua" mas levar o telemóvel, que, creio, até seria SEU. E neste país ainda existe uma coisa chamada propriedade privada. Não a estou a desculpar. Deixa-me é "alucinado" a notícia, praticamente na mesma semana, das agressões que vêm sendo praticadas HÁ DOIS ANOS, na Escola Básica de Tarouca, por dois irmãos de 15 e 11 (!) anos, que têm sistematicamente desancado colegas e funcionárias (ver Público de 25/03/2008). Uma funcionária grávida ia sendo atingida na barriga por um pontapé, sendo salva por outra funcionária que levou o pontapé por ela! Os dois "estudantes" até já formaram um gangue na escola! A GNR não age porque espera queixa, as funcionárias não se queixam, ou porque têm medo de ser dispensadas por falta de competência para lidar com casos destes (as contratadas), ou porque sabem que nada acontece aos catraios por serem menores. O Presidente do Conselho Executivo diz " que a situação tem uma certa gravidade porque cria alguma instabilidade"!!! Então: a televisão é ou não uma coisa fantástica? Vê-se uma aluna mal-educada a lutar pelo seu telemóvel e o PGR quer mandá-la para uma casa de correcção. Dois menores desancam os colegas e as funcionárias e criam "alguma instabilidade". Realmente: ou as pessoas andam muito distraídas ou são mesmo hipócritas! Lembra-me aquela frase: uma boa causa, além de justa, tem de ser oportuna!

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Praxes e outras fitas

Hoje de manhã, enquanto me dirigia para o emprego, observava o tempo cinzento e a chuva miudinha que caía e pensava que este seria um óptimo dia para ficar em casa à lareira, a ler um bom livro e a ouvir música, enquanto tomava um chá com torradas. Qual não é o meu espanto quando vejo, no relvado da Faculdade de Ciências, ali para os lados do Campo Alegre, um grupo de caloiros, com orelhas de burro, de papel, na cabeça, circundados pelos inevitáveis "doutores", em pose digna e altiva. Isto às 8 e meia da manhã! Aqueles BURROS (os com orelhas e os sem elas) levantaram-se de madrugada, para estarem, voluntariamente, ao frio e à chuva a prestarem provas públicas da sua burrice colectiva! E isto fez-me lembrar aquele fim de tarde em que eu passava na Praça dos Leões e lá estava um grupo de caloiros, vestidos de crianças, com velas nas mãos, num profundo silêncio, enquanto os "doutores" os circundavam. Dirigi-me ao que parecia ser o mais "doutor" e perguntei-lhe se tal vigília era pela paz no mundo, mas ele respondeu-me logo com um ar muito surpreendido: "não...é a praxe". Notei que ficou a pensar se haveria algum cinismo no meu comentário...mas creio que não conseguiu lá chegar. No jardim ao lado, alguns "doutores" passeavam caloiros como se fossem cães, fazendo-os alçar a perna contra as árvores! Ah! É a irreverência estudantil! É o processo de integração dos caloiros no mundo académico! É o querer viver com entusiasmo e alegria os anos que restam antes da integração no mundo sério do trabalho! É...é uma parvalhice, na minha modesta opinião. Sou suspeito: nunca usei traje académico, nunca participei num cortejo da Queima das Fitas. Não gostei de ser universitário? Gostei. Não tive algum orgulho quando dizia que andava na Universidade, quando me viam com aqueles livros repletos de complicadas equações matemáticas? Claro que sim. Mas também queria mostrar que já era um "homenzinho", que tinha acabado o liceu e começava uma formação séria, para mais tarde exercer uma profissão que exigia estudo e maturidade. E o que muitas praxes demonstram é o oposto: que à Universidade ainda chegam muitos catraios e que estes conseguem impor a sua vontade aqueles que dela quereriam dar outra imagem. A praxe contribui para integrar os caloiros? A maior parte deles, concerteza. Qualquer actividade partilhada, por mais estúpida que seja, o faz. Exceptuam-se aqueles casos em que contribui para o total afastamento dos caloiros (na semana passada um caso chegou aos tribunais). Contribui para que a sociedade veja os universitários como jovens irreverentes, críticos, social e politicamente activos? Pois...é mesmo a imagem que dão quando vão nos autocarros todos pintados e de chupeta ao peito. Sou a favor da alegria, da brincadeira, da irreverência, das praxes destinadas a dispor bem, a acolher, a dignificar. Mas não podemos comprometer a imagem da Universidade: em muitos países os universitários estão na linha da frente na luta contra as ditaduras, como o estiveram em Portugal, há uns anos, quando se pagava caro ser do contra e ter ideias próprias. Espera-se dos universitários ideias, debate, contestação, apoio, exemplo, irreverência séria, compromissos descomprometidos com lobbies instalados. Esta é a imagem do universitário que eu gosto de ter, e não o catraio com barba e orelhas de burro, nem o "doutor" que de tal só tem a pose!

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Seria um dia especial



Seria um dia muito especial: o dia em que, ao ligarmos a televisão para ouvir as notícias, a abertura fosse..."hoje ninguém morreu numa qualquer guerra"! Mas nunca é assim. Já não duvidamos que houve um atentado no Iraque: só não sabemos quantos morreram. Não temos dúvida que o conflito entre israelitas e palestinianos continua: só não sabemos se foi dia dos palestinianos atacarem ou dos israelitas contra-atacarem. Não temos dúvida que decorre algures um genocídio: no Chade, no Ruanda, na Bósnia...em qualquer lado há-de ser. Hoje o alvo foi um prémio Nobel da paz. Ontem, foram mulheres, crianças...Não tenhamos ilusões, sempre assim foi e sempre assim será. Nunca faltarão razões: étnicas, políticas, económicas, religiosas...Nunca faltará quem lucra com a guerra, desde políticos a fabricantes de armas, de líderes religiosos a tiranos. Nunca faltarão os "universais soldados", para darem o corpo às balas, seja por patriotismo seja por cobiça, por ideais ou por ódio, por coragem ou por medo. E nunca faltarão as vítimas inocentes: os mortos, os feridos, as famílias destroçadas, os que sobrevivem e ficam sós. Sinceramente, não acredito que consigamos pôr um fim às guerras. Os mais espertos e mais ricos, talvez as consigam manter longe, travá-las fora de portas. Outros tentarão levantar dúvidas sobre a dimensão das desgraças ocorridas(o Holocausto, por exemplo). Mas uma coisa será sempre certa: a todo o momento, num sítio qualquer, alguém, numa guerra qualquer, estará sempre a tirar a vida a um semelhante, que de diferente só terá a cor da pele, ou o credo, ou apenas o facto de ter nascido a 200 metros, do outro lado da fronteira...

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Momentos mágicos



Para a maioria das pessoas, a vida tem momentos bons, momentos maus, momentos assim-assim. Momentos coloridos, momentos cinzentos. Mas não é destes que me apetece falar. Apetece-me falar dos momentos fantásticos, dos momentos cor de arco-íris. Daqueles momentos em que se perde a noção do tempo, do lugar, do nosso corpo, e em que parece que todo o universo pára, para connosco saborear um momento extraordinário. E muitas vezes até são bem simples. Uma caminhada na serra, com um grupo de bons amigos: subida dura, calor a apertar, costas dobradas com o peso da mochila. E de repente, o cimo da serra. Uma paisagem deslumbrante, o vento a bater-nos na cara e todos, em silêncio e em sintonia, a contemplar... Ou uma pequena festa de Natal de escuteiros, onde um grupo dos mais novos nos surpreende com uma peça, por eles criada, falando de paz, de solidariedade, de injustiças, de amizade, trazendo-nos as lágrimas aos olhos e fazendo-nos acreditar que, afinal, talvez façamos alguma diferença... Ou os abraços apertados dos filhos, quando, para melhor os saborear-mos, fechamos os olhos e agradecemos a felicidade e a alegria que vemos nos seus rostos... Um jantar de amigos, quando no fim alguém pega numa viola e toca, para todos cantarmos, as nossas canções. E olhando em redor, vemos os rostos daqueles com quem partilhamos aventuras, loucuras, serviço aos outros, confidências...Ou o momento em que perguntamos aquela pessoa especial se queria namorar e ela nos diz "sim", com certeza e alegria. E sempre que ambos recordamos esse momento, há mais de 25 anos...Ou uma refeição deixada a meio, só para subir a serra e ver um pôr-do-sol fabuloso...Ou quando sentimos que marcamos positivamente as pessoas, para lá do que imaginamos...Um filme, uma música, um livro, quando têm o condão de nos transportar para lá da fronteira entre o quotidiano e o reino da magia. Procuro estes momentos. São eles que nos fazem viver o dia a dia com um sorriso de quem tem algo de especial...

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Reformas pouco reformadoras

Não sei qual dos golpes dados recentemente na banca me impressionou mais: se os 5 mil milhões de euros que um funcionário desviou num banco francês, se o valor das indemnizações e reformas atribuídas aos administradores que têm saído do BCP Millenium (percebo agora a origem da marca - reformas... millenárias). Se o primeiro é maior, o segundo tem a grande vantagem de ser legal e assim os autores não precisam sequer de fugir. Fantástico: ainda recentemente ouvi que um grande número de reformados, para viverem com um mínimo de dignidade, precisavam de mais cem euros por mês. Outros, aos 50 anos e após receberem indemnizações de 10 millleniuns (perdão, milhões de euros), têm ainda direito a 35 mil euros de reforma mensal. Vejamos a coisa pelo lado positivo: as estatísticas vão revelar que o valor médio das reformas em Portugal está a aumentar. E isto faz-me lembrar...pois, aquela empresa onde trabalhei. Inserida num sector complicado, as dificuldades faziam-se sentir já há uns anos. Talvez em Fevereiro de certo ano, começaram-se a discutir os aumentos salariais (no ano anterior praticamente não tinham existido). A massa salarial não deveria aumentar mais do que cerca de 3%. Numa reunião de direcção, propus aumentar os salários mais baixos numa taxa superior e praticamente não mexer nos salários mais elevados. Os segundos que se seguiram foram dignos de um filme de suspense: o presidente do conselho de administração disse-me (creio que com toda a sinceridade e muito espanto) que não sabia que eu era comunista. Um outro director disse-me ser uma proposta injusta, uma vez que um aumento generalizado de 3% mantinha o poder de compra de toda a gente inalterado e a minha proposta não. E assim, os 3% lá deram 1 conto e tal de aumento aos que menos ganhavam e 21 contos aos que já mais recebiam. Manteve-se assim o poder de compra (ou a falta dele, para alguns) e a sociedade lá evoluiu mais um bocado. Falando a sério, é evidente que o mérito, o saber, a inteligência, a capacidade de trabalho, etc., têm de ser justamente recompensados, mas acho que nos afastamos cada vez mais de modelos de sociedade como as da Noruega, Finlândia, Suécia e ficamos mais parecidos com os brasileiros, por exemplo.
Voltando aos administradores do BCP e a outros como eles, eu bem sei que nem tudo são rosas: tenho a certeza (quase) que quando passam por funcionários diligentes, esforçados, que no fim do mês levam para casa 500 euros, se sentem algo desconfortáveis e se questionam se porventura todos aqueles milhões não serão um pouco exagerados (bolas, acho que estou um pouco irónico de mais). Termino com uma sugestão: muitas pessoas que têm saldos bancários médios na casa das centenas de euros, não acham piada nenhuma aquelas despesas de manutenção, comissões, etc. que os bancos debitam e lhes emagrecem ainda mais o já de si reduzido pecúlio. É um dado adquirido que os bancos têm de cobrar estes valores por forma a manterem os resultados ao nível que aqueles senhores vestidos de negro (vulgo, os accionistas) esperam. Sugiro que tornem então os descritivos dos débitos mais giros, por exemplo: comparticipação na indemnização a atribuir ao nosso administrador despedido...ou...contribuição para o perdão da dívida do filho do director...ou ainda...verba destinada a off-shore, para aquisição de acções próprias...ou...verba para cobrir despesas adicionais com fusão gorada. Tenho a certeza que todos os clientes aguardariam, ansiosos, a chegada do seu extracto mensal.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Cegos e Empresários

Há uns dias, quando seguia para o emprego, parei num semáforo que estava vermelho. Reparei num cego que caminhava rapidamente pelo passeio, bengala apontada à frente, procurando detectar a tempo os inúmeros obstáculos que a cidade levanta. Eu, se tivesse de caminhar pela cidade de olhos fechados, deveria demorar horas para percorrer a distância que aquele cego iria fazer em cinco minutos. Conheço até muito jovem com boa visão que, mesmo com pressa, se move mais lentamente que aquele cego. E isto lembrou-me uma história. Há cerca de dez anos, era director financeiro de uma fábrica que produzia electrodoméstcos. Entre os nossos 250 empregados, trabalhava um cego. Quando a fábrica mudou de accionistas, chegou um novo presidente do conselho de administração, gestor moderno, habituado a fusões, cisões, downsizing´s, restruturações e essas coisas tais. Logo após termos concretizado uma fusão, começaram os despedimentos. O posto de trabalho do cego nem estaria em risco, mas a sua substituição tornou-se, para o administrador, quase um objectivo em si. A produtividade teria forçosamente de aumentar. E o cego lá foi despedido, embora obviamente indemnizado. Não sei se voltou a encontrar trabalho, o facto de já não ser novo não deve ter ajudado. E creio que a produtividade até caiu: os colegas acharam injusto e a motivação diminuiu. Talvez até por o gestor ser um católico praticante, ministro da comunhão inclusivé! Regresso ao presente. Preocupa-me profundamente a actual taxa de desemprego no nosso país. Deve ser muito triste querer trabalhar e não arranjar trabalho. Querer alimentar a família e não poder. E então penso em alguns dos nossos "grandes" empresários e gestores. Naqueles que acham que a forma mais eficaz de aumentar a remuneração dos accionistas e o valor das acções da empresa é a da redução do número de trabalhadores e a contenção salarial (excepto no que diz respeito aos seus póprios vencimentos, claro, mas estas ideias geniais têm de ser bem pagas...). Ou ainda aqueles empresários que desviam as suas fortunas da indústria, para as aplicarem na especulação imobiliária e financeira, pois, com a habitual ajuda dos nossos políticos e governantes, conseguem retornos do capital muito superiores e mais rapidamente. É evidente que o dinheiro é deles e podem fazer com ele o que entenderem. Mas pelo menos não lhes dêm tanto destaque. Vejo na televisão tanto especulador financeiro e imobiliário que não cria emprego, tantos consultores e dirigentes de clubes de futebol e tão pouco destaque para Empresários como, por exemplo, a família Nabeiro, dos cafés Delta, que empregam gente no interior esquecido do país e se preocupam com a responsabilidade social nos negócios. Termino com uma proposta aos nossos legisladores, que tanto gostam de alterar constantemente tudo que é código. Podiam propor uma alteração à Bíblia, ao capítulo 25 do evangelho de Mateus: onde se lê que no Juízo Final nos será perguntado se "...deste-me de comer, quando tive fome?..., vestiste-me, quando tive frio?", acrescentar que, aos empresários, será também perguntado "empregaste-me, quando não tinha trabalho ?".

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Professores e violinos

Li no jornal que os melhores violinos do mundo se fazem, actualmente, em Portugal. De uma forma totalmente artesanal, numa pequena empresa familiar. Ponto. Um estudante do 10º ano, que eu conheço muito bem, teve 8 num primeiro teste de matemática, para depois conseguir recuperar um pouco, obtendo um 12 no segundo teste. Nota no final do 1º período: 8 valores. Nesta altura terão já feito a vocês mesmos duas perguntas: o que é que uma coisa tem a ver com a outra e o que é que terá justificado a nota, tão pouco aritmética, a matemática. A resposta que obtive para a segunda pergunta é que os professores preferem dar negativa por uma questão de precaução pois se, nestes casos, derem agora positiva e o aluno no segundo período descer e merecer mesmo a negativa, terão de justificar, perante o Ministério, a nota dada...o que deve dar trabalho, imagino. Também não gostam de dar 9, porque fica já próximo do 10 e causa discussão. O 8 é, para eles, mais tranquilo. Agora farão uma terceira pergunta: "E o aluno, como fica?"
Isto faz-me lembrar uma história, vivida na primeira pessoa. Em 1984, saídinho da faculdade e enquanto esperava ir para a tropa, fui professor de matemática do 5º e 6º anos. Lembro-me de um aluno, muito fraquinho à disciplina, mas com grande vontade de aprender. Num primero teste terá atingido uns 30%. Dei-lhe 40% e disse que estava no bom caminho, pelo que eu ia vendo nas aulas. No segundo teste terá atingido uns 45%. Dei-lhe 50% e voltei a desafiá-lo, dizendo que começava a dominar a matemática mas era capaz de mais...Acabou o ano sendo aluno consistente de 75%, bem merecidos, porque tinha ganho gosto, estudava mais que os outros e aprendeu a confiar nas suas capacidades e nos resultados do seu trabalho. Será pouco ortodoxo (ainda me punem, com efeitos retroactivos), mas arrisquei, desafiei o determinado, investi e tive resultados.
Começo agora a responder à primeira pergunta: creio que tal como os violinos, cada aluno deve ser merecedor da particular atenção do professor. Acham que se conseguiriam fazer os famosos violinos com fabricações em série, pouco trabalho e afinando os violinos todos da mesma maneira, sem ouvido nem coração? Eu sei, quem sou eu para falar de metodologias de ensino, quando o Ministério da Educação tem todos aqueles pedagogos, cientistas da educação, consultores, investigadores... E parece até que está provado que, a matemática, o intelecto dos nossos alunos está muito abaixo da média europeia...
Mas sabem, há também alguns fabricantes de violinos doutros países que dizem que os seus não são melhores por causa da madeira...

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Um, dois, três... experiência

Um, dois, três...experiência! Bom, já se vê que percebo disto a pacotes! Carrego nas teclas do computador com o cuidado de um perito de explosivos que tem pela frente um engenho desconhecido! Vamos a ver no que dá...

Dizem que os contadores de histórias, para melhor agarrarem o ouvinte, às vezes exageram um pouco: "...o peixe que pesquei media para aí metro e meio (deveremos ler 15 cm), ou... dei aquela curva apertada a 180 Km/h (descontando o erro do velocímetro, seriam uns 90), ou...naquele jogo fantástico marquei cinco golos (deveríamos descontar os marcados na nossa baliza, durante o aquecimento)". Isto é normal, desde que o exagero não seja, ele próprio, muito exagerado. E o testemunho aqui deixado, na introdução desde blog, pela sua criadora é mesmo muito exagerado: muito simpático, muito motivador, mas muito exagerado.

De qualquer forma, o meu muito obrigado à Joana Sousa pelo seu presente mais do que original, pelas suas palavras e, sobretudo, pela sua amizade.

E é assim que eu quero terminar esta minha primeira experiência no éter ciberastronáutico: com um brinde às histórias da nossa vida (sobretudo aquelas que contamos com um sorriso e através das quais deixamos marcas positivas naqueles que nos rodeiam) e aos Amigos, pois são para eles e com eles as nossas histórias!

Um BOM ANO!